Os corpos das 62 vítimas do acidente aéreo ocorrido na última sexta-feira (9) em Vinhedo, no interior de São Paulo, já foram retirados do local. O destino de todos é o IML (Instituto Médico Legal) Central da capital paulista, onde serão feitos os trabalhos de identificação.
A remoção dos destroços do avião que caiu – um ATR-72 usado pela companhia Voepass – deve ter início nos próximos dias. Antes, as autoridades vão concluir a perícia na região da queda. Já os órgãos e equipes de segurança ficarão responsáveis pelas investigações. Entenda abaixo os próximos passos.
Causas do acidente
As caixas-pretas do avião foram encontradas intactas na área do acidente e enviadas para análise de profissionais do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), em Brasília.
Segundo o chefe do Cenipa, Brigadeiro do Ar Marcelo Moreno, são dois gravadores: o Cockpit Voice Recorder, que grava as vozes dos pilotos e todo o som da cabine, e o Flight Data Recorder, que grava informações técnicas como velocidade da aeronave, inclinação, se estava com os flaps ou o trem de pouso baixado.
Ele informou que os dados serão analisados com a maior celeridade possível, mas não é possível determinar um prazo. Peritos da Força Aérea haviam dito anteriormente que pretendiam finalizar o serviço em cerca de um mês.
Investigação criminal
Ao mesmo tempo, a Polícia Federal realizará uma investigação para fins criminais – ou seja, para saber se houve imprudência, negligência ou imperícia por parte das empresas envolvidas, como a companhia aérea e a fabricante da aeronave.
O presidente da Voepass, Eduardo Busch, e o diretor de operações da companhia, comandante Moura, disseram, em entrevista coletiva, que a aeronave ATR-72 passou por manutenção de rotina na noite anterior ao acidente.
“Essa aeronave saiu de Ribeirão Preto, onde fica a nossa base principal de manutenção. Ela fez manutenção de rotina na noite anterior e saiu daqui sem nenhum tipo de problema técnico que inviabilizasse a sua aeronavegabilidade. Então, a aeronave estava perfeitamente aeronavegável, dentro dos regulamentos, dos manuais, dos requisitos tanto do fabricante, autoridades e dos nossos processos internos”, disse o comandante Moura.
Gelo na asa e estol
Segundo a Aeronáutica, não houve declaração de emergência entre o piloto e os controladores de tráfego aéreo antes do acidente. A aeronave voou normalmente por 1 hora e 35 minutos. Depois fez uma curva brusca e despencou 4 mil metros em apenas 1 minuto. Essa queda é chamada de parafuso chato, quando o avião cai girando, e significa que houve perda de sustentação – fenômeno conhecido como estol.
As condições meteorológicas no momento do acidente eram desafiadoras, com a presença de nuvens densas e a possibilidade de formação de gelo severo nas asas da aeronave. Essa é uma das hipóteses levantadas por especialistas como possível causa da queda.
“A formação de gelo pode mudar a configuração da aeronave e interferir também na superfície de controle. Isso será investigado, mas é uma linha de investigação”, explicou o perito Daniel Calazans.
O avião tinha sistemas anti-gelo, mas, em situações extremas, como uma formação rápida de gelo, esses mecanismos podem não ser suficientes. O sistema deve ser acionado pelo piloto, e ainda não se sabe se ele não funcionou ou se não foi acionado.
O diretor de operações da Voepass ressaltou que ainda é prematuro apontar o que aconteceu, mas ele não descarta a possibilidade do congelamento na asa.
“O ATR tem uma sensibilidade um pouco maior a situação de gelo. O avião é sensível ao gelo, é um ponto de partida, mas ainda é muito precoce qualquer tipo de ideia em relação ao evento.”