Os olhos de meninos e meninas brilharam ao ver cada vez mais próxima a realização de uma vontade antiga, embora tenham pouca idade: poder aprender as técnicas do esporte mais popular do Brasil bem perto de casa e sem precisar tirar um real do bolso. Era este o semblante dos futuros alunos do Projeto Lages Leãozinho, mobilização de cunho esportivo e social promovida pela Secretaria da Assistência Social e Habitação, com parceria do Esporte Clube Internacional de Lages. O Município entra com a mão de obra e alguns materiais, como bola, cone e colete, e o Inter com os uniformes.
Na noite desta quarta-feira (25 de outubro) foi aberto o 3º núcleo do Projeto em Lages, já lançado nos bairros Guarujá e Vila Mariza, onde os treinos já começaram. O 4º será no Santa Mônica. O objetivo é privilegiar polos em diferentes e longínquas partes da cidade. Para 2018 deverão ser abertos nosso núcleos.
O prefeito Antonio Ceron lembrou que atividades diferenciadas estão mais perto da comunidade. “Mesmo com todas as dificuldades enfrentadas pela prefeitura, desde janeiro, procuramos priorizar as crianças. Poder ver as crianças praticando esportes e em atividades de artes e cultura nos deixa contentes enquanto gestores públicos.” E reiterou que as escolas já estão inserindo o conteúdo dos Jogos Abertos de Santa Catarina (Jasc) em sala de aula e fora dela.
O presidente da Comissão Central Organizadora (CCO) da 57ª edição dos Jasc, vice-prefeito Juliano Polese, salientou que, “cada vez mais o Município precisa dar oportunidades aos jovens. A prefeitura quer justamente equilibrar as opções, pois o futuro das pessoas depende da quantidade de oportunidades que lhes são dadas.” Polese destacou que os Jasc contarão com 46 troféus disputados em diversas modalidades e convidou a comunidade para prestigiar as disputas. “A abertura será no dia 3 de novembro, no Jones Minosso, e será um verdadeiro espetáculo. Lages será a capital do esporte de 3 a 11 de novembro e estão todos convidados.” A entrada para acompanhar as competições será franca.
Forte adesão
Paralelamente, nesta noite de lançamento, foram feitas inscrições de interessados, no Centro de Referência de Assistência Social (Cras I) do Popular e não faltou alegria para posar para fotos com o mascote Leão Baio. As aulas serão oferecidas no campo de futebol do bairro. Coordenado pelo educador físico, Tyrone Machado, o Projeto rege que cada polo disponibilize 130 vagas. “A filosofia do Projeto é justamente de inclusão. Meninos e meninas jogando”, confirma Tyrone.
No Popular as aulas acontecerão no contraturno escolar, às terças e quintas-feiras, com divisão em duas categorias – sete a dez anos e de 11 a 14 anos. Os menores cumprem o primeiro horário matutino e vespertino, e os maiores os segundos horários – 8h30min às 9h45min; 10h às 11h15min; 14h às 15h15min, e 15h30min às 16h45min. Os professores são do quadro da Assistência Social, contratados especialmente para o Projeto: Sandro Plauda e Valdecir Cecatto.
O secretário da Assistência Social, Samuel Ramos, comemorou que em poucos minutos já havia 58 inscrições no Popular. “Temos 160 crianças no núcleo do Guarujá, 140 no Vila Mariza e daqui cerca de 15 dias abriremos no Santa Mônica. Contribuir para a formação de cidadãos de bem. Esta é uma de nossas missões.”
Integração intermunicipal
Na sexta-feira (27) serão feitos contatos com os pais para confirmar o interesse e a previsão é de que as aulas iniciem já na próxima terça-feira no campo do bairro. “A ideia é, após a montagem dos quatro núcleos, começar a trabalhar a realização de torneios com outros municípios que desenvolvem o Projeto, como Correia Pinto e Otacílio Costa, não visando à competitividade em si, mas a convivência e interação. Outra ação prevista é levar os jogadores do Inter até aos alunos para dividir a história de sua trajetória até chegar a profissional, servindo como um espelho às crianças”, pontua Tyrone. Este é o 16º núcleo do Inter na Serra.
O camisa 10
Uma personalidade abrilhantou a noite do lançamento no Popular. Mateus Arense, o camisa 10 do Inter, dividiu com as crianças a emoção de fazer o que gosta e as estimulou a correr atrás de suas metas. O atacante é natural de Taquara (RS) e está no time lageano há dois anos. “Estou aqui para apoiar a meninada. Comecei com oito anos, no futebol de salão. Com 13 fui para o campo. Aí com 16 fui para o Criciúma. Agora meus pais e eu moramos lá. O futebol era um sonho. Agora é realidade, e assim desejo que aconteça com essas crianças que estão dando seus primeiros passos.” Nos discursos da noite ficou claro que se não for vontade de todos seguir carreira e despontar o talento nos campos, é válida as tantas vantagens do esporte em suas vidas: saúde, qualidade de vida e distância das “armadilhas” do mundo.
O coordenador das escolinhas e categorias de base do Inter, Thiago Machado, antecipa que neste domingo (29), o Inter jogará contra o Joinville, fora de casa, em Joinville, valendo a liderança da competição – Copa Santa Catarina. No feriadão haverá folga e no outro final de semana, dia 12 de novembro, voltará a campo com o Brusque, fora de casa. E no dia 19 de novembro, no encerramento da 1ª fase da Copa, o jogo será em Lages, contra o Tubarão, oportunidade em que os alunos dos núcleos de Lages participarão de um ato de entrega de uniformes e terão direito a dois ingressos cada um. Se vencer, este será um título até então inédito para o clube.
As mães fãs dos filhos
A dona de casa, Adriana de Moraes, é mãe de Letícia (13) e Larissa (10). As duas vão jogar bola. “Para o esporte eu incentivo.” As irmãs torcem para o Flamengo. “Na escola tem os treinos, mas tem que comprar uniforme, tem custos. Agora vou poder jogar. É bom para a saúde e ocupa o tempo livre”, argumenta a mais velha. Na Escola de Educação Básica (E.E.B.) Zulmira Auta da Silva, onde estudam, é desenvolvido o projeto de futsal das Leoas da Serra, mas o gosto pelo gramado falou mais alto.
Kauan Godoy Meurer, sete anos, foi se inscrever acompanhado pela mãe, a diarista Elisângela Godói. A família mora no Popular mesmo. Ela estava de folga e a data do lançamento veio a calhar. “Entregaram um folheto para minha irmã lá no Centro, aí ela me informou. Ele fazia escolinha no Coral, mas fica longe pra mim. E lá era pago. Aqui é de graça, vai ser melhor e eu posso levar e buscar. Assim está na escola ou no futebol, não está na rua ou em casa sem fazer nada.” Já o garoto, estudante do 2º ano na E. E. B. Cora Batalha da Silveira, torcedor do Palmeiras, estava curioso e empolgado. “Estou ansioso. Meu primo também vai fazer, e meus dois vizinhos.”
Suellen Godói, irmã de Elisângela, também compareceu e matriculou o filho, Henrique Godói Ribeiro, de oito anos. Corintiano, o pequeno quer ser policial quando crescer. “O futebol é um meio de tirar as crianças da rua, garantir um bom futuro e deixá-las longe do que é ruim, dos vícios”, avalia a mãe. Maria Janete de Lima é dona de casa e matriculou o filho, Diogo de Lima, 13 anos. Eles moram no Várzea. “Ele fazia escolinha perto do Rosário. Era longe. O sonho dele é jogar bola. Vai ficar melhor ser aqui, pra gente estar de olho.” A presidente da Associação de Moradores do Popular, Lúcia Straubel, esteve presente no lançamento.
Fotos: Carlos Alberto Becker