A segunda edição já está pré agendada para novembro deste ano, e está garantida a participação dos grupos no Natal Felicidade
Olhares vidrados nas apresentações da noite desta segunda-feira (9 de julho) agradaram não só a plateia, mas aos próprios instrumentistas novatos, tamanha a aceitação dos acordes e dos timbres das vozes do 1º Festival Estudantil de Música, no Centro de Atenção Integral à Criança (Caic) Nossa Senhora dos Prazeres, bairro Santa Catarina, com engajamento de alunos das Escolas Municipais de Educação Básica (Emebs) Nossa Senhora dos Prazeres, Professor Waldo Costa, Professor Eduardo Pedro Amaral e Mutirão, da Escola de Educação Básica (E.E.B.) Lúcia Fernandes Lopes e da Escola de Artes Elionir Camargo Martins, da Fundação Cultural de Lages (FCL), através do polo do Programa Lages Melhor com aulas de canto, coral e orquestra no território onde vivem os pequeninos. “A escola pública tem dever e responsabilidade na formação das nossas crianças. Torcemos para que daqui saiam músicos, mas se não acontecer na totalidade, teremos a convicção de estarmos preparando homens e mulheres de bem”, discursou o prefeito Antonio Ceron na solenidade. A segunda edição do Festival já está pré agendada para novembro deste ano, e está garantida a participação dos grupos no Natal Felicidade.
A noite já começou com um grande presente às crianças e adolescentes. Em virtude dos recursos economizados pela Câmara de Vereadores em 2017, no valor de aproximadamente R$ 1,9 milhão, devolvidos ao Município, foi possível a aquisição de instrumentos para as aulas e Orquestra Soprano do Caic, com investimentos diretos de R$ 15 mil. Foram doados três trombones, dois saxofones tenores, três saxofones altos, trombones de vara, cerca de 50 palhetas e dez estantes de partitura.
Segundo o maestro André Medeiros, incansável incentivador das artes na comunidade, parte dos instrumentos da Orquestra são emprestados do Instituto José Paschoal Baggio (IJPB) e de escolas estaduais. “O Caic, salvo engano, é a única escola do município que todos os alunos têm ensino de música do 1º ao 9º ano. É um trabalho muito difícil de se fazer, mas temos bons companheiros que nos ajudam fora do horário, buscar crianças em casa com seus carros. Quero agradecer aos alunos e aos pais, pela confiança em deixar seus filhos conosco em segurança. É uma atividade prazerosa de preparar um futuro melhor para eles.” O maestro André é o responsável pela Orquestra Soprano e pelo coral da Emeb Nossa Senhora dos Prazeres. O objetivo dos espetáculos da noite foi propagar o acesso à cultura, reunindo os vários grupos de alunos que estudam música no contraturno escolar para uma maior integração.
Em torno de 90 alunos participaram do Festival, envolvendo estudantes com idade entre nove e 16 anos, numa parceria entre a Secretaria da Educação e a Escola de Artes da Fundação Cultural de Lages (FCL). O Festival foi abrilhantado pelo coral formado por alunos do Caic e Orquestra Soprano (na qual estão 22 alunos) acompanhados dos Violinistas Aprendizes da professora Carmen Melin, grupo do qual fazem parte alunos das três escolas municipais parceiras do evento, percussão de alunos do professor Antonio Robson Machado Pereira, e parceria da professora Luciana Aparecida Leite Ramos, que leciona interpretação para o coral na língua inglesa. A primeira apresentação da noite ficou por conta dos Violinistas Aprendizes, com repertório composto pelas canções Can Can; Balaio; Brilha, Brilha Estrelinha – 1ª variação; Alecrim e Asa Branca. Em seguida, a Orquestra Soprano, com acompanhamento na bateria, do professor Antonio Robson, emocionou o público com a interpretação da música “I Feel Good”, seguida pelo terceiro espetáculo, de canto e coral (25 estudantes), com percussão de alunos do 9º ano do ensino fundamental, com “Have You Ever Seen the Rain”. A quarta e última apresentação da noite fechou a programação com a canção “Trenzinho do Caipira de Villa-Lobos”, pela Orquestra Soprano, Violinistas Aprendizes e o grupo de canto e coral. “Oportunidades se abrirão por causa da música”, resume a secretária da Educação, Ivana Ivana Michaltchuk. Já a gerente da Escola, Joziane Müller Ramos, ressalta que, “a arte junto ao processo educacional, em que um enriquece o outro. Temos grande orgulho em ter alunos com tanta competência”. O superintendente da Fundação Cultural, Gilberto Ronconi (Giba); adianta que em breve o núcleo do Lages Melhor naquela região terá o incremento do curso de street dance.
O poder das artes
A adolescente Maria Luiza Ferreira de Faria, 15 anos, está no 1º ano do ensino médio no Lúcia. Moradora do Santa Catarina, foi aluna do Caic por um longo tempo e encontra na música sua maior paixão. Com o saxofone alto, mostrou ao público seu potencial na Orquestra Soprano, na qual faz aulas há três anos, e no canto e coral, há dois. “Trato este instrumento como se fosse um filho. Eu amo e me identifico. Não é difícil tocar, tem de estudar.”
Por ser mulher, Maria Luiza revela que os comentários de que não conseguiria tocar um instrumento grande e pesado, funcionou como um combustível para o desafio. “Este tipo de provocação me impulsiona mais ainda. Eu acho bem legal porque é uma chance de expressar meu sentimento através da música”, confessa, lembrando que suas habilidades são extensas, pois toca escaleta, flauta contralto e lira. Ela tem aulas de instrumentação duas vezes por semana e faz parte da banda do colégio Lúcia, com mais de 40 componentes. “O que vou ser quando crescer? Musicista, com certeza. Quero fazer faculdade na área e me especializar para dar aulas, propagar meus conhecimentos. A música ajuda a gente a ampliar nossa visão, a enxergar as coisas boas da vida, a ter sonhos.”
Aluno do 8º ano do Caic e morador do Santa Catarina, João Paulo Khoh de Oliveira, 14 anos, deixa visível seu orgulho em tocar na Orquestra Soprano e ser um dos talentos do grupo de canto e coral. Há cinco anos como instrumentista, o garoto foi uma das estrelas da noite com seu grande amigo, o saxofone soprano. “Gosto de me apresentar. O Festival possibilita que o pessoal fique conhecendo mais e se interessem pela música. Quanto mais gente atrelada à arte da música, melhor.” O amor pelos instrumentos não tem limite, João toca ainda trompete, trombone, flauta doce e flauta contralto.
745 estudantes
A Emeb Nossa Senhora dos Prazeres atende 449 alunos distribuídos em turmas do 1º ao 9º ano, nos períodos matutino e vespertino. No período noturno possui duas turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) em parceria com o Serviço Social da Indústria (Sesi), séries finais. Através do Programa Novo Mais Educação atende, em média, 100 crianças no contraturno. O Ceim Nossa Senhora dos Prazeres atende 296 alunos de berçário ao pré-escolar. A estrutura do Caic Nossa Senhora dos Prazeres é formada pela diretora da Escola Municipal de Educação Básica (Emeb), Neucimar Barbosa, e pela gerente Joziane Müller Ramos e o gerente administrativo Douglas Antonio da Silva, além de professores e demais profissionais. O Centro de Educação Infantil Municipal (Ceim) tem como diretora a professora Eliane Silveira Benevene.
O Caic Nossa Senhora dos Prazeres possui uma estrutura diferente das demais escolas básicas. Oferece à comunidade e aos alunos aulas de canto e coral, esportes, banda, orquestra e artesanato. Pela diversidade dos serviços prestados aos alunos e à comunidade externa, o Caic é considerado uma Unidade de Serviços, visando o pleno exercício da cidadania. Em 2002 conquistou o Selo de Escola Solidária pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Em Lages, foi inaugurado em 31 de julho de 1992, pelo então prefeito João Raimundo Colombo. Em 1993 passou a chamar-se Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente (Caic), tendo como mantenedora a prefeitura de Lages, via Secretaria da Educação em parceria com as demais secretarias. O Caic recebeu o nome de Nossa Senhora dos Prazeres em homenagem à padroeira do município.
Os Caics foram criados por intermédio do Programa Programa Nacional de Atenção à Criança e ao Adolescente (Pronaica), com a denominação primeiramente de Centro Integrado de Atenção a Criança (Ciac). Esta instituição, pelo fato de ser uma das primeiras no Brasil, teve o seu projeto de elaboração, construção e equipamentos sob a responsabilidade do governo federal.
Fotos: Marcelo Pakinha